maio 05, 2010

Aos mares que permanecem aos olhos, submersos a alma, inacabados em "violentas maneiras de inventar a mesma palavra"


Tentativa crítica literária para o Livro de Casé Lontra Marques - Mares Inacabados


O leitor de Mares Inacabados é levado a momentos divergentes, em uma conexão entre os objetos no mundo, que na sensibilidade análoga, entre o arcabouço das coisas e a estrutura do pensamento, inicia o profundo “movimento diferente, em que o impulso de prosseguir acompanha o passo do paladar”. A necessidade de conhecer mais a vida, “Fome multiplica braços com a versatilidade de uma violência sobretudo atenta”, seguidos, estes todos, de jeito contínuo, que cada página sujeita a uma demonstração afiada, da vontade de tocar e sentir o mundo: “Suspeito de todo dente que não traia a estreiteza da necessidade”.

Em profundo trabalho com as palavras, Casé Lontra Marques desconserta padrões poéticos tradicionais, inexistindo rimas, mas, ainda assim, não perdendo seu caráter poético através dos versos, inovando formas, jeito de pensar, desmontando seres e mundos; O movimento sem fim, embora aflito, que, dentre todas as profundas procuras, da água que não se acaba, dentro da instabilidade dos modos contemporâneos, da violência urbana, que concerne adversamente: “Prédios em vez de asas”, um exemplo que percorre as cidades dos “mares inacabados que o sol do sarcasmo infeccionou. Dois desempregados cruzam o asfalto, equilibrando pássaros dentro dos sapatos.”

É algo sempre aberto, mas revigorado no ato de sentir a paisagem, o “atentamento” ao abstrato, vinculados às matérias concretas, "Mares petrificados", "De novo o teatro de um êxtase tão semelhante ao transe do trabalho". É um tapete sem fim de um personagem procurando, procurando, tomando como tapa, toda liberdade de acepções infinitas, demonstrando metaforicamente a notória água, viva, silenciosa e instável, à linguagem de que busca descobrir adentrando por todos os poemas em “violentas maneiras/de inventar/ a mesma palavra”.

O leitor que passar, então, ao envolvimento com a vida e as palavras nos mares inacabados, verá de uma forma, que Casé Lontra Marques surpreendentemente nos deixou, o sujeito lírico que, compreende por ele e dele mesmo, uma idéia como um indivíduo que está tentando compreender o mundo determinado pela subjetividade: consciência, sentimentos e emoções e o próprio inconsciente - “Pouco importa se o fogo voltará/ Alguma cabeça no mais alto degrau da escada./ Ainda o martelar daquele prego / incomodamente mudo/ Resta agora a camisa pra lavar”. Da sensação dos comportamentos humanos, a alusão aos órgãos do sentido, conjuntamente expressam a sonoridade instintiva, sentida no decorrer dos poemas, sugerindo um estado ao mesmo tempo consciente e inconsciente, mas que assume em sua totalidade o desfecho da significação, “já dedilhados pela claridade da palavra um latir de têmporas”.

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