Vagarosamente perpassamos sem dar conta do tempo, mesmo que saibamos o quanto lutamos contra ele. Daí, entraremos ao admirável discurso poético do autor Silvio Barbieri, que escreve em seu livro “tríade” (1992), três instantes líricos: o primeiro “Ampulheta”, o segundo “Catarina” e o terceiro “Cantos do Frei Filipe”. Aqui, falaremos do primeiro instante, que para transmitir suas idéias e sensações, o poeta Silvio Barbieri utiliza do formato da ampulheta para dar um valor sonoro e forma para a poesia, que o primeiro eu-lírico mostra uma tentativa de não pensar naquilo que não acredita, uma espécie de morte nas idéias, pois “mais um projeto jaz no crânio que de tudo descrê”.
Entretanto, o libelo de sua obra, mais especificamente, de seu primeiro poema do livro Tríade, é marcado pela ansiedade do eu-lírico que se “deixa perder por uma outra via”, e que não demora muito em seus próprios pensamentos resultar e perceber que “tem imensas íris vermelhas”. O que é de tamanha fascinação é o que se mostra no percurso da poesia, como que um primeiro elemento não distancia do outro, temos, pois, a sensação de que a esfera negativa que é apontada pela ansiedade e o inicio de uma queda, é guardada e colocada “no cabide o já feito, e passa a uma outra esfera”. Abrindo, assim, um leque de elementos ligados a um só homem, seu delírio e incômodo por respostas e procuras por algo, aonde “vai a bairros e becos miseráveis”, “assiste a úmeros magros”, “príncipes e reis”, numa transposição árida, num drama que remete ao meio social, que se tornam inconscientes, àquele que faz parte da vida real e que não damos conta: o tempo.
E aí aparece, simultaneamente, ao campo da consciência e “interrompe a densa jornada a olhar lasso”, espaço, tempo e realidade não simultânea, prensando uma multiplicidade de sensações, no interior da ampulheta, para se entender, então, “que a morte não é o mal lá de fora, o tão mesquinho império podre do qual não há fuga”. O tempo, a vida “que pela ampulheta passa e repassa” condiciona o movimento translúcido do homem dialético ao infinito passado e presente.
A AMPULHETA
I
No chão queda o corpo em forma de t
Olhando o teto.
Mais um projeto
Jaz no crânio que de tudo descrê.
Mas, seu oculto olhar se distancia
da idéia em mente,
rapidamente
se deixa perder por uma outra via,
e anseia, e vagueja, e vaza o telhado...
E quanto mais
anda, mais ais
acumula no seu próprio bailado.
Pula, pisa forte destruindo telhas.
Dá chute, soco,
marcha. Num pouco
tempo tem imensas íris vermelhas...
Rodopia, dança, treme, decola,
voa...o mar corta
ao todo; aporta
e espreme em si mesmo uma cebola...
Mesmo assim não vem o choro que espera.
Enfim decide
pôr no cabide
o já feito, e passa a uma outra esfera
Vai a bairros e becos miseráveis,
com eles brinda...
E vê a infinda
chaga viva em seu país. Sua vez
dá a outros olhares iguais a si:
assiste a úmeros
magros, inúmeros,
empurrando dedos pedintes que
já não conseguem mais se firmar no ar.
Há bons larápios
com seus cardápios
de promessas, mentindo sem parar...
Príncipes e reis, pelo cheiro do ouro,
juntam aos cães
as próprias mães,
E nelas todo dia dão um coro.
Canalhas, tiranos, porcos senhores
pungindo gente,
tão pobre e crente,
até a morte com as mesmas dores.
E interrompe a densa jornada o olhar
lasso. Com sono volta ao seu dono
que, no quarto, ainda teima em cismar.
E, finalmente, se depara com
o antigo objeto
na poeira, ereto,
implacável, em seu solene tom.
Ah, perverso bicho de cara preta!
Prossegue alheia
a lerda areia:
escreve seu ritmo duro a ampulheta.
E o olhar ainda tonto do caminho
entende, então,
que a morte não
é o mal lá de fora, o tão mesquinho
império podre do qual não há fuga.
Todo o mal que
há por ali
não perturba tanto quanto essa pulga
que pela ampulheta passa e repassa.
O tempo é nosso
vexame, o poço
que traga a raça humana igual a caça.
Ó demônios em grão! Cai fino sal!
Por que diabo
não mostra o rabo
de vez essa tortura universal?
2 comentários:
Ei nana, to retornando seu comentario no Canis Familiares! Fico feliz por ter curtido o nosso som. Se tiver afim, me add no msn, a gente troca uma ideia sobre o assunto! :) Roberto
robertogcfraga@hotmail.com
[Read more.]George Breitman, review of Richard Wright, "American Hunger"June 6, 2017 by Scott McLemee Leave a CommentThe following review by Ray Ban Outlet George Breitman who among other things wrote and edited a number Cheap Nike Air Force 1 of books about Malcolm X appeared in August 1977 issue of the Socialist Workers Party journal Nike Air Force 1 Cheap Outlet International Jordan Shoes For Sale Socialist Review, which is now defunct. I post it here, under fair use, as a service to other scholars sharing my interest in Wright and the history of the American left. (The neglect of Breitman [Read more.]Selfie AbuseMarch 20, 2017 by Scott McLemee Leave a CommentOne finding of Cheap Yeezy Shoes Sale a German study discussed in my column last New Air Jordan Shoes week is that the subjects most involved in generating MK Outlet and posting selfies tended to want their social media contacts to Coach Bags Clearance post something besides selfies.
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