fevereiro 16, 2006

À beira de um ataque de nervos!

Por Pamela Cristina Leme
Tirado do guia da semana - msn

É difícil não encontrar uma mulher que nunca se sentiu como a personagem de Sharon Stone em "Instinto Selvagem" ao acordar com incômodas cólicas menstruais, especialmente numa segunda-feira nublada. Ou que não tenha se olhado no espelho e enxergado um legítimo Gregor Samsa, aquele homem que vira barata no livro "A Metamorfose", do tcheco Franz Kafka, afinal todo inchaço provocado pela chegada "daqueles dias" provoca a sensação de ser um inseto absolutamente monstruoso.
A observação de que as mulheres experimentavam sintomas como incidência de cefaléia, queixas somáticas e aumento de tensão no período pré-menstrual remonta aos tempos de Hipócrates e da escola da Grécia antiga. O ciclo da mulher tem sido, portanto, relacionado desde os primórdios da medicina ao surgimento ou exacerbação de vários distúrbios psíquicos, desde o simples aumento da ansiedade e irritabilidade, até o surgimento de delírios e ideações suicidas. O endocrinologista Dr. Walmir Coutinho, chefe do Ambulatório de Psiconeuroendocrinologia do IEDE (Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione), do Rio de Janeiro, explica que a chamada síndrome pré-menstrual "é um conjunto de alterações físicas, psicológicas e comportamentais relacionadas ao ciclo menstrual, que pode afetar qualquer mulher em fase reprodutiva". Popularmente conhecido como TPM (Tensão Pré-Menstrual), é uma das principais fontes de queixa entre as mulheres que procuram o ginecologista. SintomasInchaço nas mamas, nas pernas e, às vezes, no corpo todo, dor nos seios, ganho de peso, cansaço, aumento do volume abdominal, acne... Com tantos sintomas físicos, as alterações psicológicas são inevitáveis: nervosismo, irritabilidade, depressão, agressividade, choro fácil e depreciação da auto-imagem são as características mais comuns. E a intensidade e a qualidade dos sinais e sintomas encontrados são muito variáveis de mulher a mulher. Algumas têm predomínio dos sintomas psicológicos, outras dos sintomas orgânicos, como o inchaço. Essas alterações geralmente são decorrentes das profundas alterações hormonais que ocorrem no organismo feminino a cada ciclo menstrual. Por essa razão, "a mulher fica de ´pavio curto´, perde a capacidade do controle dos impulsos e tem dificuldade para se comunicar. Com isso, apresenta uma série de problemas de relacionamento que afetam no cotidiano", conforme salienta o psiquiatra Dr. Ricardo Alberto Moreno, do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (GRUDA) e do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Dependendo da gravidade, a mulher sob os efeitos da síndrome pré-menstrual é capaz de apresentar um comportamento muito diferente de seu estilo de vida normal. Não é difícil encontrar casos de práticas de crimes violentos, de suicídios e assaltos. Além disso, pode haver uma diminuição de produtividade, faltas ao trabalho e abusos de drogas como álcool, maconha e tabaco. Um dos exemplos clássicos do distúrbio é o de uma mãe que tem vontade de matar a filha durante o período. Estas práticas são tão comuns que na Inglaterra existe uma lei que suaviza a pena de mulheres que cometem crimes ou ato agressivos no período pré-menstrual. Muitas vezes elas podem até ser absolvidas. "Os atos típicos envolvem conflitos conjugais comuns. Os mais graves chegam a assassinatos, o que gera grande polêmica nos tribunais", sinaliza Dr. Walmir. Os casos drásticos são raros. Acredita-se que até 90% das mulheres apresentem sintomas pré-menstruais. Ainda assim, até 5% delas têm sintomas intensos, capazes de interferir na qualidade de vida ao enfrentar quadros tão severos que são obrigadas a se afastar do trabalho, do convívio social e, às vezes, do meio familiar. Deficiências vitamínicas (como B6) ou de ácidos graxos (como o ácido linoléico) também podem estar relacionadas ao aparecimento dos sintomas. De acordo com Dr. Ricardo, "é preciso levar em conta, também, os antecedentes da mulher"". Histórico familiar de síndrome pré-menstrual, histórico familiar ou pessoal de depressão pós-parto, início dos sintomas durante a puberdade ou logo após a interrupção de um tratamento anticoncepcional hormonal podem interferir no grau de intensidade da síndrome. SoluçãoO tratamento da TPM dura cerca de dois anos e varia conforme a sintomatologia descrita pela mulher. Em alguns casos, apenas mudanças no estilo de vida (redução do estresse e prática de exercícios) e na dieta (ingestão de vitaminas e sais minerais) podem fazer efeito. Outras alternativas são a reposição de substâncias de que o organismo esteja desfalcado, psicoterapia ou técnicas holísticas de tratamento como Acupuntura, Homeopatia e Antroposofia. "Vários suplementos nutricionais e medicamentos já foram testados no tratamento da síndrome pré-menstrual, alguns deles com resultados positivos. A escolha do melhor tratamento vai depender principalmente dos sintomas predominantes", conta o endocrinologista. No caso de sintomas drásticos, "além dos medicamentos e acompanhamento endocrinológico, casos mais graves de comprometimento psicológico podem precisar de tratamento psiquiátrico especializado", completa.

Dicas para aliviar os sintomas
Algumas mudanças na alimentação e no estilo de vida podem ajudar a reduzir os sintomas mais suaves, além de beneficiar a saúde de um modo geral. Confira:
Reduza o consumo de sal e cafeína;
Evite ingerir açúcar e gorduras;
Consuma regularmente alimentos ricos em carboidratos, como pães e batatas;
Deixe os cigarros de lado, e reduza o consumo de bebidas alcoólicas;
Fazer exercícios com freqüência;
Reorganize a carga de trabalho de forma a reduzir o estresse;
Agende eventos importantes para os melhores períodos do ciclo menstrual;
Mantenha um sono regular, e procure ter sempre momentos de relaxamento.

Por um fioNo fim de janeiro, o país ficou chocado com o caso da recém-nascida salva pouco antes de se afogar na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte (Minas Gerais), numa ação atribuída à mãe da criança. Além da repercussão internacional, uma questão passou pela mente de todos: como alguém pode ser capaz de fazer isso? A mãe alegou estar sofrendo de depressão pós-parto. Enquanto a justiça investiga o ocorrido, a lamentável notícia coloca em pauta os fatores gerados por este quadro delirante da mulher. O pós-parto é um período de risco psiquiátrico aumentado no ciclo de vida das mulheres. A depressão pode se manifestar com intensidade variável, tornando-se um fator que dificulta o estabelecimento de um vínculo afetivo seguro entre mãe e filho, podendo interferir nas futuras relações interpessoais estabelecidas pela criança. "Ela acontece com cerca de 10% das mulheres no pós-parto e costuma ocorrer após a quarta semana do nascimento do bebê", diz Dr. Ricardo.

Existem duas posições no pós-parto. A primeira é um estado leve de melancolia que dura de cinco a sete dias e não traz grandes conseqüências nem para as mães nem para as crianças. A outra é a depressão pós-parto propriamente dita, um manifestação mais grave porque compromete a mulher e sua visão de mundo e favorece o risco de um infanticídio (caso em que a mãe mata o próprio filho) - situação tão séria que o código penal não o reconhece como crime, pois considera que a mulher perdeu a crítica e o ajuizamento da realidade. O psiquiatra diz que dentre os principais sintomas do problema, estão os sentimentos conflituosos da mulher em relação a si mesma, como mãe, ao bebê, ao companheiro e a ela mesma, como filha de sua própria mãe. "Ela sente insatisfação com as atividades cotidianas e adquire idéias suicidas e homicidas, pois acha que nem ela nem o parceiro nem o bebê merecem viver", salienta o médico.

"O diagnóstico não é reconhecido, devido à falta de informação tanto da classe médica quanto da população. E é aí que mora o perigo", ressalta Dr. Ricardo. Segundo ele, é importante que a família e os amigos da gestante sejam capazes de perceber essas dificuldades e relatar ao médico para que a paciente seja tratada de forma adequada. "É importante que quem esteja próximo à mulher saiba que as condições da depressão pós-parto não dependem dela. Ela não age como age em função de algum benefício. Tem-se a crença de que ela seu estado é resultado de falta de esforço", sinaliza o especialista. Medicação e psicoterapia de apoio fazem parte do tratamento. Muitos antidepressivos podem ser dados sem que haja necessidade de se interromper o aleitamento. Alguns deles podem até mesmo ser tomado durante a gravidez, mas tudo com orientação de um médico. A psicoterapia também é recomendada, uma vez que ajuda a mãe a se adaptar a nova fase da vida, adquirir motivação, melhorar auto-estima, trabalhar sentimentos de culpa que ocorrem na depressão e resgatar a alegria de viver.

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