Fechei os olhos e nada ouvi. Abri. Observei todos a minha volta. Fechei. Senti uma pulsação. Senti medo.
O peso costuma aparecer na hora errada, comumente separada do real; O peso costuma aparecer à margem do desespero, quando tudo já não tem mais sentido; Ouso dizer, são fatos; Fatos dos quais não serão repetidos, ao menos em minha presença; Quero que tudo se levante e o vento pare de levar o mais alto delírio de amar; Poderia poder ser surda, ou não gostar de psicologia; Fingir-se inocente, amedrontar com suspenses e mistérios; Ouso, de novo, não posso ser de mais ninguém; Ah, tudo seria mais fácil se houvessem crenças dentro de mim; Tudo que eu queria nesses momentos é acreditar em algo divino, pelo menos uma força que atingisse a calmaria que precisasse; Tenho medo de não aguentar mais; De não suportar pessoas, lugares, desvios, desdém; De não achar mais o plano da vida, de permanecer na instância do desequílibrio, caindo sempre, por não achar mais nada que te dê sustento; Tenho medo disso; Também, se grata às palavras convenho com tais clarezas e afirmações, qualquer coisa poderia me ajudar; Tanto que fosse verdadeiro; Simples palavras; Simples gestos; Um sentido que faz com que nós vivêssemos; É tão difícil pra alguém que não crê em nada; É tão difícil para suportar dores, que qualquer homem estaria na mesma situação; Passa, todo peso passa; Quaisquer sejam as circunstâncias; Quais serão as minhas?
Um comentário:
Medo
Se eu tivesse metade da imaginação das crianças nunca dormiria de luz apagada. Iria sempre à casa de banho a meio da noite encostado à parede, com o coração aos saltos e a tremer de medo. Só fechava os olhos se eles, os olhos, me obrigassem. Jamais o faria por opção. Teria medo da claridade do dia e pânico da escuridão da noite. Ficaria aterrado com o silêncio e em sobressalto com o barulho. Estaria sempre em alerta.
Sempre. Se acreditasse em metade das coisas em que as crianças acreditam e inventam, não teria coragem de sair à rua nem de perto da minha mãe. Nunca.
Eu não saberia viver se desconfiasse que podia estar um crocodilo debaixo da minha cama à espera que eu pusesse o pezinho no chão, ou se imaginasse que a sombra do roupão fosse um esqueleto assassino ansioso que eu me levantasse a meio da noite para... zás, me esmigalhar a cabeça.
Dava em doido se acreditasse que monstros, fantasmas, feiticeiros, bruxas, mortos-vivos, vampiros e outras coisas sem cabeça são tão reais como a taxa de desemprego e que todos me queriam matar. E, claro, passava o dia agarrada à minha mãezinha se levasse a sério metade dos contos infantis.
Ass: Mário
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