agosto 19, 2010

E a pesquisa só está começando...

Meu coração palpitava enquanto subia aquela ladeira íngreme, o ar, que também me deixava ofegante, a neblina da manhã encostando-se em meu rosto. Lá estava o portão bem alto, de grade e um vigia vestido de azul me olhando. Olhava pra ele tentando respirar mais fundo, e ele me olhava sabendo que estava indo naquela direção.
- Oi, marquei uma reunião com a assistente social.
Abriu o portão e disse:
- É naquela sala ali. – apontando lá pra cima.
Mais ladeira.
Enquanto subia passaram quatro idosos. Dois de cadeira de rodas, um segurando uma espécie de lata esticada e o outro me olhando profundamente. Senti arrepios. Mas logo ao entrar, percebi que o vigia abriu o portão para um carro entrar. Essa pessoa que, claro, chegou antes de mim, estava procurando a mesma pessoa que eu.
Cheguei perto da sala e tinha uma mulher falando ao celular. Assim que desligou, olhou pra mim e perguntou:
- Você é...?
- Sou Mariana, estudante de Letras da UFES.
- E você é...? – Perguntando pra mulher.
- Sou uma pessoa que está precisando muito da sua ajuda e...
A assistente social me olhou e eu fiz sinal para que atendesse a ela primeiro. Fiquei curiosa em ouvir o que aquela mulher tinha a dizer.
- "V., preciso muito da sua ajuda. Eu arrumei um namorado e meu pai mora comigo. Preciso que ele fique aqui. Eu moro na Praia do Canto (bairro nobre de Vitória), compro fraldas para ele, compro a cama, compro tudo que vocês precisarem. Pode contar comigo também para trazer e buscá-lo quando precisar de médico, pois sou cliente da UNIMED. Pode ficar despreocupada que ele é muito saudável, adora passear, aproveita que a passagem é de graça pra ele e fica andando por aí." (SIC)


Nessa hora eu já estava completamente enojada da mulher. Como é que uma pessoa diz que seu pai é saudável, passeia, não dá trabalho nenhum e, ao mesmo tempo, quer abandoná-lo? Que sentido tem isso, pelo amor de deus?! Meu coração que antes já estava apertado, parecia que eu ia morrer naquele instante, ou se olhasse pros olhos daquela mulher, nem sei o que poderia acontecer. Por isso, evitei.
Sem conseguir começar a falar da minha pesquisa, não pude evitar:
- "V., vou te perguntar uma coisa que é completamente pessoal. Não tem nada a ver com minha pesquisa. Você concorda com essas pessoas que colocam seus parentes, pais aqui dentro?" (SIC)
- "Não. E isso que você ouviu é pouco". (SIC)

8 comentários:

Anônimo disse...

Excelente post, escrever sobre indignação e dor não é nada fácil tem que existir muita sensibilidade. Se com 23 anos já a tem, você não é uma promessa, é uma certeza. Não desista.
Parabéns.

Fez-me reflectir.

Não me lembro quando começaram a tratar os velhos por idosos. Deve ter sido quando as pensões de reforma emagreceram tanto que não chegavam para os remédios, a comida e os transportes da velhice.

Um velho é uma coisa socialmente inaceitável, muito custosa de pagar, inútil, enquanto um idoso é um ancião que foi entrando em anos e em idade maior abençoado pela sapiência.

Muitas vezes estão mesmo muito doentes, daquelas doenças lentas e crónicas e pesadas da velhice, sem esperança e sem redenção, doenças que comem os ossos e a pele, atravancam o andar, e fazem dos velhos uns fantasmas. E quanto mais doentes estão mais a família se faz escassa e se esquece deles.

A palavra morte tornou-se proibida nas sociedades de bem-estar.

Se houvesse um costume tribal de colocar os mais velhos e mais fracos junto a uma árvore anciã para poderem morrer de fome sozinhos e com dignidade, era uma vantagem. Em África faziam isso.

Assim se dava ao velho a dignidade de um ancião, igual à da árvore, em vez de o abandonar num hospital ou noutra instituição.

Assina: Mário

Anônimo disse...

Fora do contexto.

Na qualidade de consumidor, os Blogs só despertam a minha atenção se tiverem conteúdo e forem interactivos, o que aparentemente todos são.

Numa análise subjectiva, ocorre-me uma analogia e talvez assim, consiga exprimir a minha visão sobre o conceito de Blog.

A tão conhecida expressão “ mercado “ é a base que vou utilizar.

A inovação implica uma atitude séria e responsável, pois, inovação é apostar no futuro.

Criar condições que vão de encontro às expectativas dos consumidores, é o caminho certo para o futuro desejado.

Para isso é preciso um verdadeiro choque operacional centrado num contrato colectivo entre todos os actores sociais que permita a expansão e a manutenção.

Criatividade e conhecimento são as variáveis que permitem apostar de forma sustentada na permanente renovação.

O Blog que não souber “ ler “ o mercado desta forma não terá condições de sobrevivência.

Na verdade se assim não for é um Blog introspectivo e nesta simples visão, qual a razão da sua existência? Qual é a finalidade? Um " Diário "?

Ass: Mário

Nana Atallah disse...

Mário, estou curiosa sobre você. Do nada apareceu em meu blog fazendo comentários, e me deixando até um pouco sem graça pelos elogios. Mas agora deixou um comentário que não entendi direito, falando sobre blog. Pareceu-me que escrevi alguma coisa sobre tal. Mas, não...Por isso não entendo. rs..O que está dizendo sobre "fora do contexto"?
Abraço e...obrigada pela visita! rs.

Anônimo disse...

Oi Nana

Os elogios são merecidos sem nenhum favor. Acredite que não é lisonja.

A surpresa foi grande quando depareis com o conteúdo e, não estou habituado a ver pessoas da sua idade a escrever bem, com sentimentos e filosofia de vida.

Fora do contexto = Sem nada a ver com o post.

Por incrível que pareça, estas questões minúsculas lançam um reflexo na materialização do conceito de "contrato colectivo entre todos os actores sociais" intervenientes no processo, pois sem a celebração deste, não haverá futuro para um Blog puramente introspectivo de contemplação abstracta, ou seja, sem " Feedback".

O autor do post gosta de ver reconhecido o seu trabalho. Ora, o comentarista gosta de saber a opinião do autor sobre o que escreveu.

Este é o grande dilema dos blogueiros: Produzir um público fiel seguidor é realmente o grande desafio.

Compreendo a sua surpresa pela minha visita. Devo-lhe uma explicação. Vim dos Largados, lá o meu nick : Português

Como já disse, não desista.

Mário

Nana Atallah disse...

Ah, então veio de lá né. Papai é fera. Sabe que Largados é do meu pai?
Sobre o que disse: "Este é o grande dilema dos blogueiros: Produzir um público fiel seguidor é realmente o grande desafio."
Na verdade, eu não costumo nem postar frequentemente, nem mostrar pra ninguém, só pros meus amigos e familiares. Eu escrevo muita coisa pessoal, tem coisas que eu até apago no dia seguinte com medo de alguém ler..rs..Fora que às vezes eu fico uns seis meses sem atualizar. Mas como agora eu tenho um computador só pra mim, e tenho que estudar muito nele, acabo escrevendo coisas - que vão além dos estudos - rs.. e acabo mexendo aqui...

E ah, se um dia eu chegar a escrever como você, estará bom demais. E se refletir tanto como você, estarei nas nuvens...

Abração!

O Duque de Alexandria disse...

Perdi a senha do outro blog e fiz este novo. Aguardo você.

Thiago Quintella de Mattos disse...

Uma das melhores crônicas de sua autoria que já li. Não sei o que o pai da moça fez, mas parece que não é nada que motive levá-lo a um asilo. É de um nefasto egoísmo, peroe-me pela redundância. Tocou num dos grandes problemas da humanidade.
Abraços

Anônimo disse...

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