Ler um livro antigo é ter a mesma sensação de andar com All Star velho. ao som de um ônibus barulhento, com pessoas fedorentas, de uma cidade metida a ser grande.
Um comentário:
Anônimo
disse...
Este post é de 2008. Assim sendo, sei que esta reflexão está desactualizada. Já não pensa assim. Tornou-se adulta. Ainda bem. Ler, representa agora uma das suas ambições. Encontrou o caminho. A cultura é parte integrante da sua vida.
Agora, a minha reflexão.
Pobres leitores deste rico Ocidente atulhado em bugigangas de papel disfarçadas de livros, tralha iletrada embrulhada em talha dourada: quereis saber quem sois? Quereis conhecer o fundo infinito do vosso ser sem fundo?
Nos poetas o encontrareis.
Falo dos poetas convocados pela palavra, em prosa ou verso, ficção ou ensaio, não dos seus muitos e muito fáceis imitadores - aqueles costureiros do tempo que, com um retalho de real (uma frase de autocarro, uma linha de teoria, um alinhavo cinéfilo), mais um laivo de turismo virtual e um pó de humor de manual, fazem volume de estilistas - seja na versão compacta da feijoada paradigmática para triunfo académico ou na versão leve da salada histórica para consumo endémico.
O que é um poema? É algo para guardar. Essa foi a primeira coisa que aprendi com o brasileiro António Cícero, esplendoroso poeta (também ensaísta, como é próprio dos poetas, sendo o ensaio a tempestade que prolonga o relâmpago do poema) da língua portuguesa - e das outras todas, porque a poesia é babélica.
Só não dá por isto quem vive com o ouvido da alma curvado, por excesso de reverência para com a língua inglesa.
A segunda coisa que aprendi com António Cícero foi a sair. O português do Brasil possui aliás o substantivo "saideira", que não existe em Portugal, este país que sabe exilar-se mas nunca soube sair.
Os poemas de António Cícero são vertiginosos, sábios, simples e autênticos como espelhos.
A terceira coisa que aprendi com António Cícero foi a reivindicar o direito ao juízo de valor, e, em particular, ao juízo estético. Cícero tem a arte de tornar claras as coisas obscuras e de caminhar, serenamente, contra as evidências, conduzindo-nos a descobrir que "muitas vezes o óbvio é meramente o impensado"
O seu léxico é transparente e o seu espírito uma biblioteca de Alexandria.
"Poesia e Paisagens Urbanas" e "O Tropicalismo e a MPB" - oferecem-nos reflexões inteligentíssimas sobre o mito da vanguarda.
"A Falange de Máscaras de Waly Salomão" e "Drummond e a Modernidade" - dão uma surra revigorante nos dogmatismos críticos.
Os outros, girando em torno desse diamante central intitulado "Poesia e Filosofia", são investigações tão minuciosas quanto surpreendentes sobre essa finalidade sem fim, no trilho de Kant.
Um comentário:
Este post é de 2008. Assim sendo, sei que esta reflexão está desactualizada. Já não pensa assim.
Tornou-se adulta. Ainda bem.
Ler, representa agora uma das suas ambições. Encontrou o caminho. A cultura é parte integrante da sua vida.
Agora, a minha reflexão.
Pobres leitores deste rico Ocidente atulhado em bugigangas de papel disfarçadas de livros, tralha iletrada embrulhada em talha dourada: quereis saber quem sois?
Quereis conhecer o fundo infinito do vosso ser sem fundo?
Nos poetas o encontrareis.
Falo dos poetas convocados pela palavra, em prosa ou verso, ficção ou ensaio, não dos seus muitos e muito fáceis imitadores - aqueles costureiros do tempo que, com um retalho de real (uma frase de autocarro, uma linha de teoria, um alinhavo cinéfilo), mais um laivo de turismo virtual e um pó de humor de manual, fazem volume de estilistas - seja na versão compacta da feijoada paradigmática para triunfo académico ou na versão leve da salada histórica para consumo endémico.
O que é um poema?
É algo para guardar.
Essa foi a primeira coisa que aprendi com o brasileiro António Cícero, esplendoroso poeta (também ensaísta, como é próprio dos poetas, sendo o ensaio a tempestade que prolonga o relâmpago do poema) da língua portuguesa - e das outras todas, porque a poesia é babélica.
Só não dá por isto quem vive com o ouvido da alma curvado, por excesso de reverência para com a língua inglesa.
A segunda coisa que aprendi com António Cícero foi a sair.
O português do Brasil possui aliás o substantivo "saideira", que não existe em Portugal, este país que sabe exilar-se mas nunca soube sair.
Os poemas de António Cícero são vertiginosos, sábios, simples e autênticos como espelhos.
A terceira coisa que aprendi com António Cícero foi a reivindicar o direito ao juízo de valor, e, em particular, ao juízo estético.
Cícero tem a arte de tornar claras as coisas obscuras e de caminhar, serenamente, contra as evidências, conduzindo-nos a descobrir que "muitas vezes o óbvio é meramente o impensado"
O seu léxico é transparente e o seu espírito uma biblioteca de Alexandria.
"Poesia e Paisagens Urbanas" e "O Tropicalismo e a MPB" - oferecem-nos reflexões inteligentíssimas sobre o mito da vanguarda.
"A Falange de Máscaras de Waly Salomão" e "Drummond e a Modernidade" - dão uma surra revigorante nos dogmatismos críticos.
Os outros, girando em torno desse diamante central intitulado "Poesia e Filosofia", são investigações tão minuciosas quanto surpreendentes sobre essa finalidade sem fim, no trilho de Kant.
Cícero persegue: a beleza.
Ass: Mário
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